terça-feira, 23 de junho de 2009

Caxambu, Angu de Banana, história, arte e natureza: atrativos turísticos da Comunidade Quilombola de Monte Alegre


A experiência dos descendentes de escravos no segmento de turismo étnico cultural e ambiental é uma das atrações do Núcleo de Conhecimento do Salão do Turismo.
A noite cai no Quilombo Monte Alegre, no município de Cachoeiro do Itapemirim (ES). Diante da fogueira, a roda está formada. A mestre Maria Laurinda Adão, 66 anos, puxa o Caxambu – dança popular africana de letra simples e forte significação. Aos poucos, embalados pela música e as fortes batidas dos tambores, os turistas, que visitam a comunidade, ocupam o centro da roda e mergulham na cultura e na história desses descendentes de famílias escravizadas durante o Brasil Colônia e Império.
Esse é apenas um dos atrativos turísticos da Comunidade Quilombola Monte Alegre que participou de oficinas de Gastronomia, Teatro, Artesanato, Dança afro, Maculelê, Capoeira de Angola, Corte e Costura no âmbito do projeto Turismo Étnico Cultural e Ambiental de Monte Alegre. A iniciativa é do Ministério do Turismo (MTur) em parceria com o Instituto Novas Fronteiras da Cooperação (INFC).
“O objetivo das oficinas foi o resgate da cultura afro em suas diversas manifestações e, ao mesmo tempo, a diversificação da oferta de produtos turísticos de qualidade como forma de gerar renda para a comunidade. Tudo isso para contribuir com a preservação desse patrimônio”, afirma a coordenadora geral de Produção Associada ao Turismo do MTur, Ana Cristina Albuquerque.
Além das oficinas, que capacitaram cerca de 100 quilombolas, foram oferecidos cursos de Gestão Associativista e de Comercialização da Produção e dos Serviços. “Isso para que a própria comunidade pudesse aprender a vender seus produtos e administrar os negócios gerados pela atividade turística de forma a promover melhorias para todos os moradores de Monte Alegre”, explica a consultora do projeto Rosilã Jacques Pereira.
Turismo: geração de renda, resgate da cultura e auto-estima quilombola – O turismólogo Leonardo Ventura, 45 anos, encontrou no turismo uma fonte de renda para sua comunidade. Ventura, hoje com o diploma de tecnólogo em turismo nas mãos, é coordenador do grupo Bicho do Mato, composto por oito quilombolas, todos residentes em Monte Alegre. Os integrantes do grupo foram capacitados, em 2005, para atuarem como condutores de Ecoturismo pelas trilhas da Floresta Nacional de Pacotuba, onde o quilombo está localizado.
Por meio do projeto do MTur, as trilhas foram estruturadas e sinalizadas e novos atrativos criados. Hoje, o turista que visita Monte Alegre além de caminhar e usufruir das belezas naturais do lugar conhece histórias, lendas e superstições da comunidade contadas pelos próprios quilombolas caracterizados com roupas de época em apresentações teatrais.
Além disso, os grupos culturais de Monte Alegre, formados em sua maioria pelos jovens da comunidade, aprenderam no curso de costura a fazer as roupas de mucamas e sinhazinhas utilizadas nas peças teatrais, bem como as estamparias das danças. Os grupos culturais já receberam convites para se apresentarem em eventos regionais em Vitória (ES) e Macaé (RJ).
“Essas são oportunidades que vão surgindo para gente divulgar nosso trabalho. Torná-lo mais conhecido nos municípios vizinhos. Isso é muito bom pra gente”, declara Gevanildo Barboza, 31 anos, morador de Monte Alegre e condutor de turismo. Ainda com recursos do projeto foram produzidos materiais de divulgação como folderes, filipetas, cartazes, banneres e placas.
Por meio de um outro projeto, o Nossa Criança, crianças e adolescentes recebem informações básicas da história e cultura da comunidade quilombola de Monte Alegre. Eles levam, em suas cantigas, a perpetuação do povo na ponta da língua. Os ensaios dos grupos culturais transformam-se em brincadeira, o que antes era vergonhoso hoje é um orgulho.
“Essas pessoas começaram a perceber que outras pessoas davam valor aquilo que elas fazem. Elas não se valorizavam”, declara a consultora do projeto. Essa opinião também é compartilhada por Ventura. “O desenvolvimento das atividades de turismo em Monte Alegre mais que gerar renda, tem contribuído para elevação considerável da auto-estima dos quilombolas”.
A diretora da escola local, Fabiana Souza, 31 anos, nascida e criada em Monte Alegre, explica que, para participar das atividades turísticas, os jovens precisam tirar notas boas e ter bom desempenho na escola. “A gente acaba cobrando isso deles para que participem do projeto. Isso vem somando, uma coisa vai unindo a outra. A gente acaba melhorando todos os aspectos”, afirma Souza.
Projeto já rende frutos – Com planejamento, as atividades turísticas na Comunidade Quilombola Monte Alegre agora são frequentes. O grupo fechou parcerias com receptivos em Vitória para receber grupos nacionais e internacionais. Os turistas aparecem para fazer trilhas, assistir as apresentações e desfrutar pratos típicos africanos como o angu de banana, moqueca e o frango caipira com quiabo.
No final do ano passado, o quilombo recebeu a visita de mais de dois mil turistas. “Isso gerou um faturamento de R$ 25 mil, distribuído entre os mais de 50 moradores de Monte Alegre que complementam sua renda com a atividade do turismo”, ressalta Ventura.
O turismólogo reconhece a responsabilidade de receber cada vez mais turistas e afirma que a comunidade está empenhada. “A gente vai começar a receber um público que é mais exigente e ao mesmo tempo vai deixar mais dinheiro na comunidade”, afirma. E acrescenta “Para isso eu acredito no passo a passo, no envolvimento da comunidade que já ocorre hoje. As pessoas estão se aperfeiçoando naquilo que fazem. Com recursos próprios, eles estão se estruturando seja na fabricação do doce, seja na pessoa que tem sua pousada. Estamos fazendo tudo que é necessário para receber bem o turista”, declara.
Durante a implementação do projeto, iniciado em janeiro de 2008 e finalizado em março deste ano, instituições da iniciativa pública e privada abraçaram a causa. Passaram a ser parceiras do projeto. São exemplos o Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper) e a Secretaria de Agricultura e Secretaria de Turismo do Estado. Por meio da parceria, mudas foram distribuídas aos moradores de Monte Alegre. Agora, todos os quintais são produtivos e a horta da escola ajuda a incrementar a merenda das crianças.
4° Salão do Turismo – Roterios do Brasil – O projeto será apresentado em workshop, no dia 04/07, às 16h, no Parque Anhembi, em São Paulo, durante o 4° Salão do Turismo, no espaço Núcleo de Conhecimento.
Com o tema “Como agregar valor aos pacotes turísticos através da produção associada”, o workshop debaterá, por meio da apresentação de casos de sucesso apoiados pelo MTur, as formas de incrementar a oferta nos destinos turísticos por meio do artesanato, cultura, agronegócio e gastronomia.
Além do caso da Comunidade Quilombola de Monte Alegre, será apresentado o projeto Cardápio das 25 Cidades Históricas de Minas Gerais e a Rota das Gemas & Jóias no Rio Grande do Sul.

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